Lord Byron foi um dos poetas mais famosos de seu tempo, ainda assim é com timidez que seus trabalhos são popularmente lidos. Ele influenciou e inspirou diversos autores com quem conviveu durante sua vida e até mesmo após sua morte. Muitos nunca leram e talvez nunca chegarão a ler uma obra de Byron, mas a sua figura, por meio dos livros e de sua fama, ainda reverbera até os tempos de hoje através do "The byronic hero" ou "o herói byroniano".
Byron era um poeta romântico, ao mesmo tempo em que era influenciado pelo Romantismo, ele também influenciou o movimento. Os heróis românticos, como diz Babbit (1919) possuem as características de serem rebeldes, de não se confirmarem com as normas sociais, mas também devem ter bom coração, ou seja, ao mesmo tempo em que se revoltam contra as normas sociais eles demonstram empatia pelas vítimas de tais normas. O herói romântico faz de si mesmo o centro de sua existência (WILSON, 1972). Assim, o individualismo era uma importante parte da mentalidade romântica, seus heróis eram solitários, eremitas, rebeldes e geniosos (THORSLEV, 1962).
Foram poemas épicos de Byron como Manfredo, Caim, Contos Orientais e sua obra mais famosa na época, Childe Harold’ Pilgrimage, que inspiraram a criação do ideal do herói byroniano. Em Manfredo temos um homem atormentado pelo seu passado, uma espécie de Fausto* inglês, em que faz um acordo para que esqueça de seu passado. Durante a obra acompanhamos seu sofrimento e sua fuga da sociedade. Muito da obra é inspirada nas próprias vivências de Byron e de seu alegado romance proibido com sua meia-irmã.
Caim, que é inspirado na passagem bíblica, é um jovem rebelde que não se conforma com a vida levada e nem se sujeita à Deus. Influenciado por Lúcifer, Caim comete o crime que leva a morte de seu irmão Abel.
O Corsário, um dos três contos presentes nos Contos Orientais apresenta o protagonista Conrad, um homem misterioso que comete crimes pela cidade. Sua crueldade é um reflexo do que sofreu em seu passado e seu lado vulnerável é visto apenas pela mulher que ama.
Childe Harold’s Pilgrimage é um de seus poemas mais famosos, considerado semi-autobiográfico, narra as aventuras de um cavaleiro medieval. A personalidade do protagonista, seus desafios e a maneira de encarar ao mundo, tão semelhante com Byron, fortaleceria a ideia do herói byroniano e sua tão forte associação com o poeta em si. Essa criação de personagem se transformaria em meados do século XIX em um personagem encontrado em romances góticos. Thorlesv (1962) diz que de todos os poetas românticos, Byron era o que mais apreciava a literatura gótica. Ele também foi o que mais se influenciou pelos trabalhos de Goethe, em especial Fausto. Nas obras de Byron é possível encontrar diversas características góticas e sua influência iria de romances de autoras como as Brontës e Gaskell, até o Brasil com o Ultrarromantismo, em especial seu grande apreciador Álvares de Azevedo.
As influências deste arquétipo se viam no século XIX de diferentes formas. Como Wootton (2016) traz, Jane Austen e Lord Byron, foram contemporâneos, e por algumas evidências, Byron possuía cópias de "Orgulho e Preconceito" e "Razão e Sensibilidade" em sua propriedade, Austen cita o autor em sua obra "Persuasão" e dizia em cartas que havia lido poemas de Byron, apesar de não haver informações de que se conheciam pessoalmente. Wootton (2016) argumenta que ambos os autores reformularam a ideia do herói no século XIX, comparado ao século passado, e de que há muito de Byroniano em personagens de Austen. Em "Orgulho e Preconceito" temos o par romântico de Elizabeth, o famoso Mr. Darcy. Darcy se apresenta inicialmente como um homem rico e arrogante, mas possui uma faceta que vemos apenas no final, de sua bondade e que possui um segredo que nos diz muito sobre a pessoa que Darcy é. Wootton (2016) também diz que as adaptações cinematográficas reforçam a ideia do personagem Byroniano. Em "A Abadia de Northanger", sua paródia do romance gótico, seus personagens masculinos são envoltos de mistério, atração e até maldade, que representam o arquétipo de personagem famoso em sua época. Na adaptação cinematográfica, tal influência ganha ênfase, pois apesar de Byron não ser citado no livro, é frequentemente citado no filme.
Com Elizabeth Gaskell em "Norte e Sul", nos trabalhos de George Eliot, o herói byroniano se formou para que as autoras discutissem o ideal de masculinidade e de romantismo, para concordar ou discordar dos ideais Byronianos. (WOOTON, 2016) Em "Norte e Sul" diversos inícios de capítulos possuem poemas de Byron. E de maneira mais popular, com Charlotte e Emily Brontë, se criou este novo herói inglês, que em algum momento talvez já não seja sobre o poeta ou sobre seus trabalhos, mas essa figura arquétipa que se adapta em diferentes obras.
Diferenciamos o herói byroniano de um vilão gótico pela capacidade do herói byroniano de nos trazer empatia, nos fazer torcer por ele apesar de sua conduta, de ser um personagem complexo que não é inteiramente bom, nem inteiramente mau. Até mesmo o famoso Heathcliff de Emily Brontë, apesar de sua violência, é um homem cheio de emoções, é romântico (do Romantismo e do amor), e suas ações são quase justificadas pelo seu passado.
O personagem de Byron se tornou maior do que a si mesmo, em filmes, músicas, principalmente relacionados a cultura gótica, vemos resquícios ou influências óbvias do que um dia o poeta criou, os vampiros, os vilões sensuais, os anti-heróis e revolucionários, todos carregam um pouco de Byron consigo.
Referências
WOOTTON, Sarah. Byronic Heroes in Nineteenth-Century Women's Writing and Screen Adaptation. [S. l.: s. n.], 2016.
THORSLEV, JR., Peter L. The Byronic Hero: Types and Prototypes. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1962.
WILSON, James D. Tirso, Molière, and Byron:: The Emergence of Don Juan as Romantic Hero. Studies by Members of SCMLA, [S. l.], p. 246-248, 19 jan. 2023. <https://www.jstor.org/stable/3186981?origin=crossref>
Excelente texto! 👏👏
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